quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Foto enviada pelo Jamil, sem data e sem local. Se não fosse pela existência da cabeleira, diria que sou eu (Aspahan) e o Zé nos cumprimentando à moda esquimó. Na verdade nós nunca pudemos ser mais próximos devido à barreira causada por nossas respectivas napas...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Piadas de mineiros

NUDEZ MINEIRA

Dois cumpadre de Uberaba tavam bem sossegadim fumando seus respectivo cigarrim de paia e proseano.
Conversa vai, conversa vem, eis que a certa altura um deles pergunta pro outro:
- Cumpadre, u quê quiocê acha desse negóço de nudez?
- No que o outro respondeu:
- Acho bão, sô!
O outro ficou assim, pensativo, meditativo...e perguntou de novo:
- Ocê acha bão purcaus diquê, cumpadre?
E o outro:
- Uai! É mió nudês do que nunosso, né memo?


SUTILEZA MINEIRA


O cumpadi, há muito tempo de olho na cumadi, aproveitô a ausência do cumpadi e resolveu fazer uma visitinha para ver se ela não carecia de arguma coisa....
Chegando lá, os dois meio sem jeito, não estavam acostumados a ficar a sós....falaram sobre o tempo....
- Será qui chove?
- Pois é.....
Ficô um grande silêncio......
Aí, o cumpadi se enche de corage e resorve quebrá o gelo:
- Cumadi....qui qui ocê acha: trepemo ou tomemo um cafezim
- Ah, cumpadi...cê vai mi perdoar, mais cê mi pegô sem pó......


TREM CAIPIRA


Uma mulher estava esperando o trem na estação ferroviária de Varginha, quando sentiu uma vontade de ir urgentemente ao banheiro. Foi....
Quando voltou, o trem já tinha partido. Ela começou a chorar.
Nesse momento, chegou um mineiro, compadeceu-se dela e perguntou:
- Purcaus diquê qui a sinhora tá chorano?
- É que eu fui urinar e o trem partiu.....
- Uai, dona! Por caus dissu num precisa chorá não...
tenho certeza bissoluta qui a sinhora já nasceu com esse trem partido....

MUIÉ MINEIRA

Os dois cumpadres pitavam o cigarrim de paia e prosiavam. Um deles pergunta:
- Ô cumpadre, cumé que chama mesmo aquela coisa que as muié tem (faz um sinal com as duas mãos), quentim, cabeludim, que a gente gosta, é vermeia e que come terra?
- Uai...quentim... vermeia..? A gente gosta? Uái sô, só pode ser xoxota.
Mas eu num sabia que comia terra, sô!!
O outro dá uma pitada no cigarro:
- Pois come, cumpadre. Só di mim, cumeu treis fazenda.


DIPROMA


O velho fazendeiro do interior de Minas está em sua sala, proseando com um amigo, quando um menino passa correndo por ali.
Ele chama:
- Diproma, vai falar para sua avó trazer um cafezinho aqui pra visita!
E o amigo estranha:
- Mas que nome engraçado tem esse menino!! É seu parente?
- É meu neto! Eu chamo ele assim porque mandei a minha filha estudar em Belzonte e ela voltou com ele!

MINEIRIM NO RIDIJANEIRO

Um mineirim tava no Ridijaneiro, bismado cas praia, pé discarço, sem camisa, caquele carção samba canção, sem cueca pur dibacho.
Os cariocas zombano, contano piada de mineiro. Alheio a tudo, o mineirim olhou pro marzão e num se güentô: correu a toda velocidade e deu um mergúio, deu cambaióta, pegô jacaré e tudo mais.
Quando saiu, o carção de ticido finim tava transparente e grudadim na pele. Tudu mundo na praia tava oiano pro tamanho do 'amigão' que o mineirim tinha. O bicho ia até pertim do juêio...A turma nunca tinha visto coisa igual. As muié cum sorrisão, os homi roxo dinveja, só tinham olhos pro bicho.
O mineirim intão percebeu a situação, ficou todo envergonhado e gritou:
-Qui qui foi, uai? Seus bobãum... vão dizê qui quando oceis pula na agua fria, o pintim doceis num incói tamém...?


TRAIÇÃO À MINEIRA


O amigo chega pro Carzeduardo e fala:
- Carzeduardo, sua muié tá te traino co Arcide.
- Magina!! Ela num trai eu não. Cê tá inganado, sô..
- Carzeduardo! Toda veiz qui ocê sai pra trabaiá, o Arcide vai pra sua casa e prega ferro nela.
- Duvido! Ele não teria corage....
- Mais teve! Pode confiri..
Indignado com o que o amigo diz, o Carzeduardo finge que sai de casa, sesconde dentro do guarda-roupa e fica olhando pela fresta da porta.
Logo vê sua mulher levando o Arcide para dentro do quarto pra começar a sacanage.
Mais tarde, ele encontra com o amigo, que lhe pergunta o que houve.
E então, o Carzeduardo relata cabisbaixo:
- Foi terrive di vê!!!... ele jogou ela na cama, tirou a brusa.... e os peito caiu.....tirou a carcinha...e a barriga e a bunda
dispencaro...... tirou as meia...e apariceu aquelas varizaiada toda, as perna tudo cabiluda. E eu dentro do guarda roupa, cas mãos no rosto, pensava: 'Ai...qui vergonha que tô do Arcide!!!'


UAI SÔ


Um mineirinho bom de cama, passando por New York, pega uma americana e parte para os finalmentes..
Durante a relação, a americana fica louca e começa a gritar:
- Once more, once more, once more.....(tradução de once more: 'mais uma vez')
E o mineirinho responde desesperado:
- Beozonte, Beozonte, Beozonte.....



O EMPRESÁRIO E O MINEIRIM!


Num certo dia, um empresário viajava pelo interior de Minas.
Ao ver um peão tocando umas vacas, parou para lhe fazer algumas perguntas:
- Acha que você poderia me passar umas informações?
- Claro, sô!
- As vacas dão muito leite?
- Qual que o senhor quer saber: as maiáda ou as marrom?
- Pode ser as malhadas.
- Dá uns 12 litro por dia!
- E as marrons?
- Tamém uns 12 litro por dia!
O empresário pensou um pouco e logo tornou a perguntar:
- Elas comem o quê?
- Qual? As maiáda ou as marrom?
- Sei lá, pode ser as marrons!
- As marrom come pasto e sal..
- Hum! E as malhadas?
- Tamém come pasto e sal!
O empresário, sem conseguir esconder a irritação:
- Escuta aqui, meu amigo! Por quê toda vez que eu te pergunto alguma coisa sobre as vacas você me diz se quero saber das malhadas ou das marrons, sendo que é tudo a mesma resposta?
E o matuto responde:
- É que as maiáda são minha!
- E as marrons?
- Tamém!

NDO PARA A PESCARIA...

Os dois mineiros se encontram no ponto de ônibus em Cocalinho para uma pescaria.
- Então cumpade, tá animado? pergunta o primeiro..
- Eu tô, home!
- Ô cumpade, pro mode quê tá levano esses dois embornal?
- É que tô levano uma pingazinha, cumpade.
- Pinga, cumpade? Nóis num tinha acertado que num ia bebê mais?!
- Cumpade, é que pode aparece uma cobra e pica a gente. Aí nóis desinfeta com a pinga e toma uns gole que é pra mode num sinti a dô.
- É... e na outra sacola, o que qui tá levano?
- É a cobra, cumpade. Pode num tê lá...


MINEIRIM COMPRANDO PASSAGEM


O mineirin vai a uma estação ferroviária para comprar um bilhete.
- Quero uma passage para o Esbui - solicita ao atendente.
- Não entendi; o senhor pode repetir?
- Quero uma passage para o Esbui!
- Sinto muito, senhor, não temos passagem para o Esbui.
Aborrecido, o caipira se afasta do guichê, se aproxima do amigo que o estava aguardando e lamenta:
- Olha, Esbui, o homem falou que prá ocê não tem passagem não!



A PESQUISADORA E O MINEIRIN


Uma pesquisadora do IBGE bate à porta de um sitiozinho perdido no interior de Minas.
- Essa terra dá mandioca?
- Não, senhora. - responde o roceiro.
- Dá batata?
- Também não, senhora!
- Dá feijão?
- Nunca deu!
- Arroz?
- De jeito nenhum!
- Milho?
- Nem brincando!
- Quer dizer que por aqui não adianta plantar nada?
- Ah! ... Se plantar é diferente..


A tecnologia dos mineiros

Durante escavações no estado do Rio de Janeiro, arqueólogos fluminenses
descobriram, a 100 m de profundidade, vestígios de fios de cobre que datavam
do ano 1000 dC. Os cientistas cariocas concluíram que seus antepassados já
dispunham de uma rede telefônica naquela época.

Os paulistas, para não ficarem para trás, escavaram também seu subsolo,
encontrando restos de fibras óticas a 200 m de profundidade.

Após minuciosas análises, concluíram que elas tinham 2000 anos de idade.

Os cientistas paulistas concluíram, triunfantes, que seus antepassados já

dispunham de uma rede digital a base de fibra ótica quando Jesus nasceu!

Uma semana depois, em Belo Horizonte , foi publicado por cientistas mineiros
o seguinte estudo: "Após escavações arqueológicas no subsolo de Contági, Betim,

Barbacen, Furmiga, Passa-Quato, Jijifó, Sans Dumont, Santantoin do Monte, Varginha,

Nanuque, Moncarmelo, Carnerim, Lagoa Dorada, Sanjão Del Rei, Beraba, Berlândia,

Belzonte, Bosta do Raguari, Divinópis, Pará de Mins, Vernador Valadars, Tioflotoni,

*Piui*, Carmo du Cajuru, Lagoa Santa, Morro do Ferro, Biraci e diversas outras cidades

mineiras, até uma profundidade de 500 metros , não foi encontrado absolutamente nada.

Concluindo então que os antigos mineiros já dispunham há 5000 anos de uma rede de

comunicações sem-fio: 'wireless'.

Nota dos arqueólogos: Por isso se pronuncia 'UAI' reless

Ferreirices1 (escrito pelo Jamil)


O samba que a Emilinha colocou ali embaixo me deu a idéia de colocar um aqui também que sempre achei a cara do Zé, que já cantamos juntos, já chorei sozinho etc. Quase coloquei na sua lápide, mas fico na dúvida se ele gostaria disso. No entanto aqui, nesse negócio cibernético que também não sei se ele gosta, mas que já existe graças ao carinho dos seus amigos, especialmente seu idealizador, Turco Aspahan , eu vou colocar a letra do samba e um desenho que fiz do Zé, numa das inúmeras vezes em que estive em sua casa, em 2007, a qual sempre fiz – porque ele fez –minha casa também. Coloco o samba e o desenho para vocês conferirem se o samba é ou não é a cara do Zé! Aproveito o embalo para falar pra vocês que nas férias de final de 2008, as primeiras que eu e as minhas filhas passamos sem a presença do Dedéio (jamais vou tirar o acento dessa palavra, “ô simplificação besta, sô!”), a Iara propôs, durante uma viagem, fazer um Dedéio de papelão pra colocar no banco do lado do papai motorista. Queria falar mais coisas que já deveria ter colocado aqui, mas quando peguei o telefone pra ligar pro Zé e perguntar pra ele se poderia, deu naquela bosta de secretária eletrônica: “30886784. Por favor, deixe seu recado depois do sinal que eu telefono assim que puder! Obrigado.” Até que a Patrícia, minha jovem companheira, me sugeriu esse espaço para escrever, quando a saudade apertasse. Outras vezes que queria conversar coisas que só dividia com ele, cheguei a pegar no telefone, mas não cheguei a ouvir a voz da secretária, desliguei antes. Pra terminar, minha casa aqui em Ouro Preto tem vários móveis do Zé, além de coisas lindas que ele já havia me dado. O “Bar do Juca” está aqui, com cachaça e tudo. Assim, minha casa parece e diferencia-se da do Zé como eu e ele. É um pouco da dele como eu sou dele. E é totalmente dele, como era a sua, minha. Apareçam!

Jamil Cabeção Aleijado (qualquer semelhança com o Aleijadinho é mera coincidência).

A música:

Adeus, adeus,
Meu pandeiro de bamba,
Tamborim
do samba
Já é de madrugada

Vou-me embora chorando
Com
meu coração sorrindo
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada

Eu criança com o
samba vivia sonhando
Acordava, estava tristonho, chorando
Jóia que se perde no mar
Só se encontra no fundo
Samba mocidade
Sambando se goza neste mundo

E
do meu grande amor
Sempre me despedi sambando
Mas da batucada
Agora me despeço chorando

Guardo no peito esta lágrima sentida
Adeus batucada, adeus batucada querida

(Adeus batucada - Synval Silva)



domingo, 29 de agosto de 2010

Essa letra foi-me enviada pela Emilinha, já há algum tempo. Hoje, nosso amigo que continua nos fazendo tanta falta estaria aniversariando.


FUNERAL DE SAMBISTA
AFONSO MORAES

Na frente, Dutra e Frajola
No meio, Juca e Romão
Por fim, Dito e Gabola
Mas é outra a evolução
Porque é outra a situação.

Seguem sós, sem estandarte
Seguem sós, sem marcação
Há tristeza em toda parte
Ajudando a solidão
Seguem sós, sem tamborim
Sem apito, sem ganzá
Conduzindo o sambista
Prá morada da qual não vai se mudar

Prá catar amor e flor
Tem jeito até demais
Prá chorar a dor
Só há o silencio
E os nossos áis

terça-feira, 27 de outubro de 2009

tá fazendo um ano exatamente...que o nosso lar desmoronou...

Ontem, à tarde resolvi dar uma cochilada e passei do ponto. Não deu outra, chegou a noite, vi todos os telejornais, ri um pouco com o João Pedro, ops Borat, deu meia-noite, vi o último telejornal, e nada de sono.
Na verdade, passara ao dia inquieto. Véspera de quatro aniversários: duas irmãs (uma por parte de pais e outra por parte do Zé), e dois grandes amigos, sendo que um deles comemorava só um ano de vida nova.
Para ser mais preciso, há uns 10 dias eu estava inquieto, desde que começou a última guerra nos morros cariocas. Impossível dissociar Vila Isabel de meus amigos e impossível associar música e o Zé com o que estava acontecendo.


Insone, emendei no programa do Jô, cuja abertura apresentou um grupo tocando... “Noites Cariocas”. Isso mesmo, mal o calendário virou para o dia 27 e aquele pessoal começou a tocar lindamente. Mas uma coisa parecia errada. Não sei se devido à idade, ou por ter ficado muito tempo em frente ao micro, ou porque uma tempestade arrancou a antena da TV (sim, ainda uso antena!), a imagem parecia trêmula, embaçada. A música era familiar, o arranjo nem tanto, mas logo a imagem desfocada ficou nítida e claramente pude reconhecer os membros do Dama. Saravá!

Hoje, fiquei o dia inteiro achando que devia escrever algo para os irmãos em Zé, mas não conseguia começar. Rodeios, rodeios, rodeios, e nada. Há pouco, preparando-me para desligar o micro e sair, dei uma última olhada nos e-mails – tenho esse péssimo hábito – e lá estava o texto lindo do Chico. Não tive outra alternativa a não ser tomar coragem e sentar-me, só para dizer que o texto dele é o que eu queria ter escrito.
Um beijão a todos em Zé,
Marcos



E-mail do Chico:
Caros todos,
completamos hoje, 27 de outubro de 2009,
365 dias sem aquele que me uniu a todos vocês.
União tão forte que parte de mim vocês se tornaram -
com vocês, e ele, em minhas entranhas me tornei uma pessoa melhor.
Por vocês, por ele, pela Regina, e pra todos vocês, tentei ser uma pessoa melhor
do que antes fora.
Não consegui ser gigante ou herói, não atravessei mares nadando,
não iniciei ou pus fim a guerras, não liderei, não domei leões.
Mas aprendi muito com todos vocês, graças a ele.
Consegui a proeza de amá-los e de exercitar esse amor por vocês, graças a ele.
Juntos fizemos artes e malas-artes, músicas e devaneios.
Sonhamos em conjunto com um mundo que em parte se materializou,
em parte (muito grande essa parte) se esvaneceu.
Afastado de todos vocês, vou enfraquecendo, vou me traindo.
Afastado fico sonhando sem objeto, sem meta, sem troca.
O violão está quieto . O cavaco relutante em sair de sua casca.
O silêncio vem tomando conta, sorrateiro, venenoso.
Aquele nosso barulinho bom me fazia (nos fazia) tão bem...

José, olhe por nós.
Se não for atrapalhar seus dias aí nesse esplendor, Zinho, vê nos aconselha e orienta.
Eu sei que você tá organizando essa bagunça, colocando tudo onde deve estar cada coisa.
Mas não pare de se comunicar com a gente.
Continue como nestes últimos 365 dias,
povoando meus pensamentos a todo instante.
Até depois,
Chico
ET: desculpe, a benção Zezinho.

sábado, 21 de março de 2009

Uma singela homenagem...

Prezado Paulinho da Viola,
A foto que envio em anexo é uma placa de prata que foi confeccionada em homenagem a um grande amigo e ser humano incomparável chamado, por todos de sua relação, "Zé Ferreira", que nos deixou em outubro passado.
Com Zé Ferreira formamos, há uns 30 anos, em São Paulo, um grupo amador de samba e chorinho que chamamos "Dama da Noite". Fomos, no último fim de semana de janeiro, a São João del Rei, MG, sua cidade natal e onde repousa na paz eterna, prestar-lhe a nossa última homenagem. Nessa ocasião a placa de prata foi depositada em sua sepultura para mostrar"-lhe" nossos sentimentos e em seguida, entregue a seu irmão Jamil para levar a sua família e guardar como lembrança nossa.
Zé Ferreira foi um dos maiores ritmistas que conheci. "Batuqueiro", epíteto com que gostava de ser citado, dominava todos os instrumentos da bateria de uma escola de samba. Membro permanente e destacado da bateria da Escola de Samba Depois Eu Digo, de São João del Rei, não obstante tocava seu repique em todas as escolas de samba e blocos carnavalescos oficiais de São João, que não iniciavam seus desfiles sem que antes Zé Ferreira chegasse para integrar suas baterias. Os ferimentos na palma de sua mão, após essas maratonas, sequer incomodavam a felicidade de ter "cumprido seu dever" com as escolas.
Zé Ferreira morava em São Paulo apesar de manter o Rio de Janeiro idealizado em seu imaginário todo o tempo. Nunca morou por aqui (talvez por querer manter nossa cidade na mais alta conta possível). Nas vezes que aqui esteve, frequentou algumas das mais importantes escolas de samba do Rio e em todas as vezes tocou seu repique e amealhou admiradores. Gostava de frequentar os ensaios de rua da Portela. Tinha em sua carteira, como troféu, um papelzinho em que Walter Alfaiate escreveu seu telefone e endereço para que ele o procurasse no futuro. Nunca tocou em desfile oficial do Rio. Dizia não poder faltar com seus compromissos em São João del Rei. Nunca procurou fama ou carreira profissional. Preferia manter a música como a mais pura atividade de lazer, de prazer e devoção. Zé Ferreira mantinha um dos mais completos repertórios de samba que conheci. Gostava de ser desafiado e satisfeito mostrava seus conhecimentos no assunto. Ouvi de Zé Ferreira sambas que somente anos mais tarde foram divulgados na mídia. Tinha o repertório completo de todos os sambas dos compositores de São João del Rei e imediações.
A razão do conteúdo dessa placa está no fato de ter sido Zé Ferreira quem trouxe esse seu samba ao nosso grupo. Parece que ele foi cantado uma só vez por você no show Rosa de Ouro (perdoe-me a intimidade, Paulinho, mas somos da mesma geração, uma geração que introduziu o tratamento informal nas relações), 2a. parte, e foi registrado em um disco muito raro. De nosso grupo somente ele o tinha. Quando ele o cantava, silenciando seu pandeiro, acompanhado pelo violão de Chico Fengusso (seu frequente e obrigatório acompanhante), ficávamos todos quase que contritos ouvindo sua voz suave. Curioso, Paulinho, parece que o ouço agora, enquanto escrevo essas linhas. Esse seu samba, eu só conheço na voz de Zé Ferreira.
Sendo assim, em nome do Dama da Noite, tomo a liberdade de lhe fazer parte dessa nossa pequena intromissão, usando suas palavras para compor essa nossa homenagem a Zé Ferreira. Creio que você nos perdoará pela apropriação, já que fizemos questão de lhe render os créditos. Essa iniciativa também faz parte da nossa expressão de gratidão por ter produzido essa peça musical tão linda e ao mesmo tempo tão marcante e que será a marca da nossa lembrança de nosso querido amigo, aglutinador e inspirador que foi Zé Ferreira.

"Até depois, jamais adeus..." Paulinho da Viola

Atenciosamente,
João Luiz Kohl Moreira p/ Dama da Noite: Francisco e Regina Fengusso, Ari Duarte, Nicolau e Josita Priante, Marcos Aspahan, Jamil Ferreira, J.E. Braga Salerno (Tainha)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Errata n. 2

Correção acerca de meus comentários em "Quem vai ser o pandeirista". Nicolau e Jô me esclarecem que quem achou a casa foi a Jô e não Nicolau. Jô, um dia, falou para o Nicolau: "Vou comprar uma casa", e saiu. Quando voltou Nicolau viu que devia vários milhares de "cruzeiros" ou o dinheiro da época, e era muito! Nicolau foi à faculdade (Instituto de Física) e passsou o pires. Dizia que tinha comprado uma casa e precisava de dinheiro ("Quanto você tem?", era a pergunta que fazia). Ele diz que tem a lista até hoje e que pagou cada centavo. Deixa o Nicolau e Jô contarem os detalhes, né "os dois aí"? Acho que vale a pena contar pois nessa casa o Dama da Noite tocou seus últimos encontros "plenos".

Errata

Correção acerca de uma informação no "Meu Trote na USP". Jamil não entrou na USP em 1972 e sim em 1975. Então, tenho que me desculpar por acrescentar 3 anos na idade de Jamil (desulpe, Jamil) e também me dou conta que o tempo de martírio sem me relacionar com Zé se acrescenta também da mesma quantidade. Desculpe a todos pela desinformação.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Os tamborins da Mangueira

SJDR, carnaval 78. Pego o tamborim. Duas coisas eu acho que sei tocar. Surdo e tamborim. Tenho boa noção de andamento. Anos de fanfarra no colégio. "Bum-bum, ticaticabum, bum-bum,..." Noção de andamento é o que se precisa prá tocar surdo. Tamborim, levava o do meu tio para os ensaios de escola de samba em Santos. Sabia o que meu tio me ensinou. E meu tio aprendeu olhando o MPB-4 tocar. Isso eu também vi. O carinha do MPB-4 bate no tamborim: "tá...tá...tá-tá.." faz um contra-toque com o dedo na parte interior do instrumento "tá...tá...tá-tá-tá". Ensaiei e saía tocando. Tamborim, eu também sei. Pois bem. Em São João pego o tamborim e faço o que aprendi e ensaiei. Zé, olha mim de olho baixo. Puxa a calça pelo coz. Assim fazendo, parece que puxa todo o corpo, os pés ficando na ponta, como se fossem puxados, também. Vem em minha direção, quase me tomando o instrumento. Pergunta "mineiramente": "Cê não sabe tocar tamborim, não?" Com qualquer outro, eu tomaria como insulto. Mas vindo de Zé, era uma sentença. Não sei, pronto! Tudo que tentei fazer com tamborim durante anos não valeu nada! Era como se eu constatasse que depois de estudar inglês anos a fio, descobrisse que o que me ensinaram nada mais era do que esperanto. Que podia eu fazer? Tentei devolver-lhe o instrumento, mas já era tarde demais. Já tinha pago pela minha fantasia na bateria. Sem notar minha decepção e sem se dar conta do peso de seu veredito, mandou-me ficar na frente, junto com os outros do tamborim. Passei o desfile tentando abafar tudo o que tocava.
Mas se não era assim que se tocava, então como era tocar tamborim? Dia seguinte veio a resposta. Andando pelas ruas velhas de São João. Ouvindo o repicar de baterias de "blocos de sujos", chocalhos de bêbados trôpegos, bumbos em aquecimento, Zé grita. "Olha esse toque de tamborim! Maravilha!" Vamos atrás. Zé junta seu repique e continuam a batucada. Acontece que eu me julguei incapaz de reproduzir aquela batida. Sincopado demais, rápido demais, não sei. Em minhas tentativas na intimidade de meu quarto, não consegui. Mas me lembro dela.
Foi assim que me apaixonei pela Mangueira. Parece que o elemento que tocava o tamborim que encantou Zé, tocava na Mangueira. O toque do samba da Mangueira é único. Nenhuma outra escola faz. A Mangueira é como o Zé: única. Os tamborins da Mangueira me fazem lembrar de Zé.
Rio de Janeiro, sábado último. Sonia quer ir ao desfile da Apoteose. São as cinco primeiras classificadas do último concurso mais a campeã do Grupo de Acesso. Sonia tem o senso gráfico do mundo. Ela vê a beleza das alegorias, das fantasias. Ela quer ver, ao vivo, o quadro de "de La Croix", evocando a Revolução Francesa. Ela quer ver a beleza das Escolas de Samba. Eu resisto. Sinto-me mal. Tenho diarréia, enjôo. Mas sei que são manifestações de minha resistência. Não queria ir, mas não me dei o direito de me manifestar.
Chegamos. A Mangueira começa a passar. É a primeira do primeiro grupo a desfilar (ficou em 5o. lugar). No sistema de som eu ouço a bateria. O naipe de tamborins invade meus ouvidos e descem pela espinha dorsal. "Olha esse toque!" Quem falou? Sou eu, sou eu mesmo querendo gritar para cima: "Vem cá, Zé. Vem ouvir os tamborins da Mangueira!". Desabo. Tento me esconder num banco da friza em que estávamos. Me encolho, as lágrimas escorrem sem pena. Sonia percebe e vem me consolar. Me recomponho. Pronto! Tô bem! Não quero estragar sua noite.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Trova do Jamilão

O Jamil me mandou um esmail delicioso (abaixo, em itálico). Invejo o poder de síntese dos escrivinhadores. Numa simples (?) trovinha ele dá um baita recado, como o Zé e seu Hai_Kai. Sou tão prolixo que escrevi umas tentativas de letras que ninguém consegue musicar. Daí a bronca do Jamil:

Turcone, ( sou eu, “Turcão”, que é como o Ferreira me chamava)

seus versos são docarái! Cada vez que vejo, os acho mais lindos. Cadê
os músicos pra botar melodia ali?

Sei que sobraram esses ("sss")
mas não sei o que é "elegia"
Fodam-se as falhas!
Tem músico aí pra fazer melodia?

Se eu tivesse tempo, juro que tentava...

Jamil

Para completar, Jmail (ops, minha dislexia), Jamil colocou como assunto “elegeria”, que em si já é um baú-mundo de significados.
E notem que ele só não tenta musicar por falta de tempo!